Recebi por parte do meu caro amigo Renato Lauris Jr. o número 2 (1º semestre, 2015) da revista SobreVidas.
A revista anuncia-se como sendo “uma publicação com pessoas comuns
que têm muito a dizer”. Nela, fala-se sobre atitudes criativas, criadoras e sócio-políticas,
entre outras. Encontramos os cartoons
de Jéferson Bazilista, os quais, funcionando como uma espécie de fragmentos de cola
crítica, envolvem e articulam os diferentes testemunhos da revista. De resto, os
cartoons dão uma outra vida à riqueza
de produtos de expressão mais ensaística que SobreVidas contém.
E, de facto, eu diria que é igualmente com uma paginação e
com um estilo simples que é feita a SobreVidas.
Com um mínimo, na dança do preto&branco, fazer-se muito.
Confesso que a publicação me era desconhecida e que o que me
levou à sua descoberta foi a presença de uma entrevista à autora Márcia Barbieri.
Conheci a autora brasileira em Vila Nova de Famalicão, na edição de 2014 do “Raias
Poéticas”, além de ter sentido, na leitura do seu romance A Puta (Terracota Editora, 2014), um impacto inesperado, tal a
qualidade da sua narrativa.
No geral, acerca de
SobreVidas, aquilo com que podemos contar é uma publicação que procura
desafiar as ideias e os lugares-comuns, ao mesmo tempo que orienta o leitor
para perspectivas várias, libertárias e que se fundamentam sempre em criação
original e honestidade intelectual dos seus colaboradores. Há, pelo meio, humor
e críticas desconcertantes.
SobreVidas é uma
publicação atenta e que se encaixa numa lógica de “batalha”, mas igualmente de
convivência entre pares.
SobreVidas n.º 2
inclui 4 entrevistas: Coletivo Nenhures, Márcia Barbieri, Felipe Johnson e
Ricardo Miranda são os nomes dos entrevistados. Conforme o que acima indico, Márcia
Barbieri era o único nome que eu realmente conhecia. Cada uma das entrevistas tem
valor, pelo que recomendo uma leitura atenta e crédula. Acresce a isto o facto
de ser incluída a entrevista com Living Teather, com origem Jornal “O Pasquim” (29/09/1970).
Pelo meio, podemos encontrar artigos que cobrem temas de
provocação social, da questão da alternativa, das drogas, dos prazeres, etc. Para
quem é, como eu, confesso admirador da escrita de Márcia Barbieri, pode jubilar-se
com a leitura de um excerto do seu próximo romance “O enterro do lobo branco”.
Os restantes leitores, podem somente surpreender-se.
Fico com uma experiência de leitura e de descoberta que,
mais do que curiosa, foi útil e da qual espero um chegar de mais pessoas e
criadores ao meu círculo de contactos.
É verdade que a revista trata algumas matérias da realidade
brasileira, cujas nuances nem sempre me são familiares, mas rapidamente
consegue-se um espaço de empatia e interesse, porque, sem dúvida, a revista, em
diversas páginas, possui um estilo que não anda longe da crónica e do relato. E
isso ajuda.
O editorial do número 2 da revista assevera que “Nosso peito
não é de aço, mas nossa persistência é intensa, vida longa aos que não param,
vida longa aos que insistem, aos que teimam, aos que desafinam o coro dos
contentes”. Na verdade, uma publicação é sempre um exercício intenso que teima.
Grato e continuação de bom – corajoso – trabalho, SobreVidas!